sexta-feira, 22 de março de 2013

Hidratação no Futebol

Às vezes parece que o futebol está, em termos de hidratação, ainda na década de 1950, onde se julgava a excelência de aptidão física do atleta por meio da sua falta de sede, ou seja, só seriam bem preparados se não bebessem um gole de água sequer após a prática de algum esporte, dou ênfase nas provas de maratonas daquela época, onde os corredores faziam disso como meta, cita Aragón-Vargas (2004).

Com o passar do tempo o futebol, de fato, se tornou o esporte mais popular do planeta. Com isso nas últimas décadas percebe-se um avanço do profissionalismo nesta modalidade, tal alavancada tem levado seus profissionais a uma busca incansável pelo sucesso, que consiste em uma vitória, superação de resultados coletivos e individuais (Oaks, 2009). Para tanto, faz-se necessário a formação de uma comissão técnica cada vez mais pesquisadora e atualizada, a fim de aproximar-se da preparação ideal dos futebolistas.

Por ser um esporte de caráter intermitente, oferece um acentuado desgaste físico, onde a reposição de líquidos é importante (Guerra, 2001). O aumento da temperatura corporal pelo estresse do exercício leva à perda de líquidos através da sudorese, sendo mais rápida que a reposição do mesmo pelo próprio corpo. Dessa forma, justifica-se a preocupação com a ingestão de líquidos continuada como forma de evitar a desidratação.

No futebol, “a problemática da hidratação sempre foi bem grande, na maioria das vezes devido ao fato de esse esporte não ter pausas frequentes que permitam a ingestão de líquidos de forma regular ao longo do jogo.” Guerra (2008, p. 72).

No ano de 2010, fazendo parte da comissão técnica do Vilavelhense Futebol Clube-ES – clube da primeira divisão do futebol capixaba – na função de Preparador Físico, analisamos o comportamento da perda hídrica de 13 jogadores – dos 18 relacionados para os jogos - do elenco profissional, através da perda de peso corporal, e da estimativa da perda da taxa de sudorese em duas partidas oficiais, considerando todas as dificuldades de uma partida para determinadas intervenções.

Tendo como referências as formas de coleta de dados, e intervenção estratégica apresentadas nas pesquisas de Perrella (2005) e Aragón-Vargas (2004), Salum e Fiamoncini (2006) e sugestões da Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2003), mensurou-se o peso corporal dos jogadores Vilavelhense futebol clube, antes e após dois jogos oficiais.

No 1º jogo não houve intervenção de uma estratégia de reposição hídrica, os mesmos fizeram uma ingestão líquida que denominamos “livre”, e foram pesados de forma simples, antes e depois do jogo.
A pesagem corporal foi realizada em uma balança antropométrica, para que obtivéssemos o peso inicial e final Pi e Pf, respectivamente. Já a taxa de sudorese através desta fórmula, TS = (Pi-Pf)/tempo total da atividade física, obtendo assim os dados em mL/min.

Neste primeiro jogo o percentual da perda hídrica em relação a massa corporal foi de 2,79 (± 1,1) %, que corresponde a um déficit significativo e comprometedor do desempenho físico. A taxa de sudorese foi de média 19,0 (±7,2) mL/min., representando assim uma redução significativa no peso final.

Segundo Fleck & Figueira Junior (1997), a perda de calor em atividades maiores que 30 minutos pode levar o comprometimento das funções cardiovasculares, subsequentemente comprometimentos nas funções motoras e cognitivas.

Já para o 2º jogo, com base nos dados coletados, usamos a seguinte estratégia:

1. Ao chegarem para a apresentação – 1h e 30 min. de antecedência ao jogo cada um ingeriu 500 ml de água, para que se faça reservas de líquidos, e haja tempo da eliminação de qualquer excesso;

2. 1h do inicio do jogo, os atletas submeteram-se a pesagem inicial (Pi), sem roupa. E foi registrado o peso de cada.

30’ (Trinta) minutos antes da partida os atletas desenvolvem o aquecimento, preparando-se para o jogo à posteriori.

3. Durante o aquecimento garrafinhas de água foram deixadas para que os mesmo de forma livre ingiram o líquido;

4. Após o aquecimento foi sugerido ingestão de no mínimo 200 ml de água, além dessa quantia, a ingestão foi livre.

Durante o Jogo, 1º tempo.
5. Nos 35’ da partida, foi oferecido aos jogadores 200 ml de água, por meio de “sacolés”.

6. Após o 36’ do jogo, aproveita-se apenas os tempo que a imprevisibilade “oferece”;

No Intervalo.

7. Todos os jogadores em suas garrafinhas ingeriram 500 ml de água. Além dessa quantidade, a ingestão foi livre;

8. Durante o Jogo, no 2º tempo, utilizamos à hidratação estratégica da mesma forma supracitada no

1º tempo.

Final da partida.

9. Ao chegarem – jogadores – no vestiário, submeteram-se a pesagem final (Pf), sem roupa. E foram registrados os pesos de cada atleta novamente.

Neste jogo, como houve uma intervenção estratégica, o percentual da perda hídrica em relação a massa corporal foi de 1,56 (± 1,0) %, que corresponde a um déficit significativo, onde se inicia elevação da temperatura corporal, subseqüente da desidratação. A taxa de sudorese foi de média 10,6 (± 6,9) mL/min. variando de 4,54 (± 2,5) mL/min.
Segundo Perrella (2005) pequenas perdas entre 1 a 3% do peso corporal, devido a desidratação, tem pequeno ou nenhum efeito sobre a produção de força. Mas mesmo em níveis tão baixos, a hipohidratação apresenta ao futebolista um impacto progressivo negativo em seu rendimento, tal impacto subsequente do estresse térmico ambiental acentua a redução da potência aeróbica máxima. Assim podemos afirmar que hipohidratação, nesse caso proporciona uma influência mais negativa em prolongados esforços aeróbicos, do que em tarefas anaeróbicas de curto prazo.

A importância da hidratação adequada

A característica intermitente, imprevisível, submete o futebolista a uma excessiva perda de líquidos pela sudorese – um dos primeiros fatores percebíveis quanto ao esforço –. A desidratação sem ser controlada, dependendo de seu percentual de líquido perdido, pode levar o atleta a um déficit no desempenho de suas ações motoras comprometendo ao seu potencial dentro do jogo, através do desencadeamento de distúrbios relacionados ao calor, tais como:

Câimbras – este é o distúrbio de menor gravidade, pois se caracteriza por ocorrências intensas e dolorosas, geralmente na musculatura esquelética inferior. Afeta especialmente a musculatura que está sendo mais utilizada. Por ser um distúrbio multifatorial, é complicado especificar sua ocorrência, hoje na literatura estudos a relacionam pela desidratação, falta que oxigênio intramuscular e sódio.
Exaustão Térmica – Perpassa acompanhada de sintomas como fadiga elevada, falta de ar, tontura, vômito, desmaios, sendo assim acredita-se que isto e decorrente da incapacidade adequada do sistema cardiovascular em atender as necessidades do corpo em desidratação intensa.
Intermação – Causada pela falência dedos mecanismos termorregulatórios, pode causar risco à vida do indivíduo afetado, aumentando a temperatura do individuo superior a 40ºC, cessação do suor ativo, aceleração do pulso e respiração, desorientação e inconsciência. O sintoma considerado elemento derradeiro deste distúrbio é a alteração do estado mental do individuo. Não sendo tratado pode levar a morte.

Com isso pontua-se uma preocupação com a ingestão de água, estimadamente nos momentos corretos – estratégia de hidratação – a fim de proporcionar um desaceleramento da desidratação no futebolista dentro do campo durante um jogo. Toda esta estratégia deve ser planejada, estudada de acordo com o cotidiano do clube, até por que as variáveis, bem como os valores da desidratação, podem ser alterados.

O nível da perda líquida pela sudorese pode levar o futebolista a um déficit na atividade motora, extenuante, este detalhe pode ser meramente decisivo (Perrella, 2005). Meir (2003) corrobora que durante a atividade física, níveis baixos de estresse térmico podem causar desconforto e fadiga, enquanto níveis maiores chegam a diminuir drasticamente o desempenho motor do atleta.

Destarte, faz-se primordial o desenvolvimento da ciência dos esportes aplicado ao futebol de forma dinâmica e contextualizada, tornando fatores decisivos nesta modalidade os detalhes que podem ser sucumbidos, como no caso da reposição de líquidos aos jogadores durante os jogos. O incremento do conhecimento através de pesquisas abre caminho para soluções necessárias e estratégicas.

Por fim, torna-se indispensável um planejamento de estratégia hídrica durante o cotidiano de uma equipe de futebol que se torne reflexo favorável nos jogos oficiais, permitindo que os fenômenos de desgaste físico, dentre eles a perda da massa corporal, sejam diminuídos e não afetem significativamente a performance dos jogadores quando se pensa em desempenho motor.

Referências Bibliográficas:

ARAGÓN-VARGAS. Luis Fernando. Hidratação no futebol. In: BARROS, Turíbio leite de. e GUERRA, Isabela (Org.). Ciência do futebol. Manole, Barueri-SP, 2004.

CASSOL, Norton; GOMES, Alfredo. Futebol, calor e desidratação: Termorregulação e complicação pelo calor na prática esportiva de futebol. Disponível em:<http://www.universidadedofutebol.com.br/2010/04/1, 14669,FUTEBOL++CALOR+E+DESIDRATACAO.aspx?p=3>. Acesso em: 25 abr. 2010.

FLECK SJ; FIGUEIRA Junior AJ. Desidratação e desempenho atlético. Revista APEF. 1997;12:50-7.

GUERRA, I.; SOARES, E.A.; BURINI, R.C. Aspectos nutricionais do futebol de competição. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Rio de Janeiro, v.7, n.6, p. 200-206, 2001.

GUERRA, Isabela. Futebol. In:CARVALHO, Juliana Ribeiro de; HIRSCHBRUCH, Márcia Daskal (ORG). Nutrição Esportiva: Uma Visão prática. 2.ed. Rev e ampl. Barueri-SP. Manole, 2008.

MEIR R, Brooks L, Shield T. Body weight and tympanic temperature change in professional rugby league players during night and day games: a study in the field. J Strength Cond Res 2003; 17:566-572.

OAKS, Lucas Henrique Martins. Controle de treinamento de uma equipe profissional de futebol durante o microciclo de treinamento na temporada 2008. Belo Horizonte; 2009. Monografia. Universidade Federal de Minas Gerais – Escola de Educação Física, Fisioterapia, Terapia Ocupacional -.

PERRELLA, Marianna Marques, et al. Avaliação da perda hídrica durantetreino intenso de rugby. Rev. Bras. Med. Esporte. Vol. 11, Nº 4 – Jul/Ago, 2005.

SALUM, Adriana; FIAMONCINI, Rafaela Liberali. Controle de peso corporal x desidratação de atletas profissionais de futebol. Lecturas: Educación física y deportes, ISSN 1514-3465, Nº. 92, 2006.

Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med Esporte. Vol. 9, Nº 2 . Mar/Abr, 2003.